Eis Viviane em momento reflexivo...
Eu, poeta, poderia dizer que a vida
É um romance inacabado
Sem fim e sem passado
Um imenso turbilhão
De coisas que vêm e que vão
O tempo todo, acontecendo.
E de repente, tudo muda
Transmuta, transforma
Muda a forma, além da forma
E de repente, tudo passa
Passam os sonhos,
Na passarela do tempo
Passa ela, passa o tempo
Passatempo, tempo, passa... passou!
Simplesmente foi
Simples mente se vai
Vai, flui, vagueia, voa
Voa pensamento,
Na valsa do vento
Voa sensação
Ação de sentir
(De quem se permite sentir)
De repente, um deslize
E mesmo um coração turvo
Em pensamentos e razões
Sem querer, às vezes sente
Sente que a vida é bem mais
Do que aquilo que se pode ver
Medir, cheirar, tocar...
Eu poeta, poderia dizer simplesmente
Que na passarela do tempo, a vida passa
Tão de repente, que as vezes a gente nem vê
Não toca, não cheira, não sente...
Mas o curioso da vida é que ela sempre volta
Com outras caras e corpos
Em outro cenário, em outro lugar
Na marcha do tempo, voltam as vidas
Nas voltas que a vida dá.
Viviane Pascoal
domingo, 24 de maio de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
A TV no banco dos réus
Antes de discutir a “verdade da televisão” e colocá-la no banco dos réus para o julgamento de valores, entre o bem e o mal, proponho um convite à reflexão. Uma leitura – ou releitura – do mundo. Não é preciso para isso retomar o surgimento da humanidade, nem percorrer os corredores obscuros da história e da filosofia. Basta lembrar de uma célebre frase de Arthur Schopenhauer, traduzida para o português como: o mundo é minha representação, ou ainda “o mundo é sua representação”. Sua ou minha, a representação é um fato, e o fato é sua representação.
Sem grandes profusões filosóficas, o importante é se observar que a idéia defendida por Schopenhauer em 1819, e interpretada por muitos, está intrinsecamente ligada às discussões atuais sobre a imagem na TV. A exploração do tempo, do espaço e a manipulação da a realidade. O que tomamos por realidade, é um recorte que a representa, um fragmento deslocado de seu contexto e manipulado através da linguagem da televisão, para produzir sentido, mesmo que este esteja pautado em uma cópia imperfeita do real.
Uma cópia imperfeita e estrategicamente selecionada, editada. Não apenas pelas câmeras de TV, diretores, editores, produtores ou qualquer um envolvido nos bastidores da notícia. Há uma seleção ainda mais sutil, que é a do olhar. O olhar que escolhe o que quer mostrar, e o que escolhe o que quer ver. Sobre esta questão, em entrevista para o Observatório da Imprensa, o professor Arlindo Machado, questiona: O espectador de cinema escolhe o filme que vai ver antes de sair de casa, o leitor de romances escolhe o livro que vai ler, por que então o espectador de televisão não deveria selecionar o que vai entrar no seu aparelho? Ouso ainda complementá-lo: não só selecionar o que vai entrar na sua TV, mas no complexo aparelho mental.
Entre o que é apresentado pela TV e a leitura consciente do mundo, há um abismo cultural que envolve uma rede complexa de interesses e ideologias. Para que essa lacuna seja preenchida com um diálogo criativo, envolvendo o mundo dentro e fora da tela, é preciso antes de tudo entender que a televisão é um espaço plural de representações. Assim, a realidade que cabe no tempo e no espaço da TV, é resultado da manipulação da forma e do conteúdo.
A forma é definida pela linguagem da TV. Um complexo jogo de luz, explorando o espaço, os movimentos de câmera fazendo a vez dos olhar do telespectador que não tem a oportunidade de estar “ali”, mas pode acompanhar “agora” o desenrolar dos acontecimentos. Os efeitos sonoros, a voz dando vida à narrativa que vai tocar as sensações humanas. Vale observar que são estes mesmos elementos que fazem a linguagem do cinema - luz, câmera, ação.
Vamos ao conteúdo. A informação, por si só, não tem tanto poder de persuasão quanto a forma. Assim é possível dizer que a forma (a linguagem) potencializa a manipulação da realidade. Mas tudo isso acontece muito rápido, de forma que não sobra tempo para a reflexão, pelo menos não no breve momento em que as imagens televisivas chegam ao alcance dos olhos do telespectador – aquele que assiste de longe a um espetáculo (tele- longe, espectador – aquele que assiste a um espetáculo). Do outro lado da tela, o sujeito pode até assistir de longe, mas tem a impressão de estar próximo.
Não há melhor exemplo para ilustrar essa impressão do que um jogo de futebol. Da arquibancada ninguém jamais poderia ver – e ainda mais, rever – o momento do gol, de um ângulo em que é possível assistir todo o percurso da bola saindo dos pés do jogador até entrar na área, balançar a rede e o coração das pessoas. Tampouco poderia acompanhar a emoção expressa numa lágrima que escorre no rosto de um torcedor ou explode no grito ecoante da platéia.
O telespectador é bombardeado a todo momento, pela chuva de elétrons, imagens e sons já incorporados ao seu cotidiano. O artefato funciona então como uma extensão do homem. Assim como a câmera é a extensão do olho humano. Registra, comprova, testemunha e eterniza momentos.
Momentos como os descritos anteriormente só são possíveis graças à televisão. O professor Arlindo Machado, deixa claro uma coisa: convivendo com esta TV brasileira, que como tantas outras, insiste em copiar os modelos banalizados das TVS estrangeiras, existe gente querendo fazer uma TV que utilize seus recursos para potencializar a reflexão sobre o mundo e suas representações.
Agora, ao banco dos réus. Lá não está apenas um aparelho, mas um complexo ideológico, um olhar mecânico, um espelho distorcido da realidade, editor da verdade. O julgamento já começou, mas ainda cabe uma ressalva. A pergunta central do julgamento não deveria ser se a TV é “boa ou má”, mas o quê se está fazendo dela. A própria energia nuclear é inofensiva. Pode tanto salvar vidas como destruir. O problema está em quem faz uso dela, e principalmente “como” o faz. Da mesma forma, é o conteúdo televisivo. Isso sim deveria estar sendo julgado, tanto por quem faz quanto por quem assiste, principalmente por quem a critica.
Lidar com a manipulação da realidade é ter em mãos uma poderosa ferramenta que tanto pode informar, edificar vidas e consciências, quanto pode aniquilar o que o ser humano tem de mais precioso: sua inteligência. Pode tanto engrandecer, quanto “coisificar” o homem, tornando-o uma máquina de trabalhar, gerar lucro, fazer filho e consumir. Enfim, pode valorizar ou aniquilar a capacidade humana de leitura crítica do mundo. Sua alma. Nenhuma coisa existe sem o homem para criá-la. E o homem não existe sem sua alma para torná-lo humano. A alma sem o homem ainda é alma, é energia. Mas o homem sem sua alma é apenas uma coisa.
Viviane Pascoal Dantas, jornalista
Sem grandes profusões filosóficas, o importante é se observar que a idéia defendida por Schopenhauer em 1819, e interpretada por muitos, está intrinsecamente ligada às discussões atuais sobre a imagem na TV. A exploração do tempo, do espaço e a manipulação da a realidade. O que tomamos por realidade, é um recorte que a representa, um fragmento deslocado de seu contexto e manipulado através da linguagem da televisão, para produzir sentido, mesmo que este esteja pautado em uma cópia imperfeita do real.
Uma cópia imperfeita e estrategicamente selecionada, editada. Não apenas pelas câmeras de TV, diretores, editores, produtores ou qualquer um envolvido nos bastidores da notícia. Há uma seleção ainda mais sutil, que é a do olhar. O olhar que escolhe o que quer mostrar, e o que escolhe o que quer ver. Sobre esta questão, em entrevista para o Observatório da Imprensa, o professor Arlindo Machado, questiona: O espectador de cinema escolhe o filme que vai ver antes de sair de casa, o leitor de romances escolhe o livro que vai ler, por que então o espectador de televisão não deveria selecionar o que vai entrar no seu aparelho? Ouso ainda complementá-lo: não só selecionar o que vai entrar na sua TV, mas no complexo aparelho mental.
Entre o que é apresentado pela TV e a leitura consciente do mundo, há um abismo cultural que envolve uma rede complexa de interesses e ideologias. Para que essa lacuna seja preenchida com um diálogo criativo, envolvendo o mundo dentro e fora da tela, é preciso antes de tudo entender que a televisão é um espaço plural de representações. Assim, a realidade que cabe no tempo e no espaço da TV, é resultado da manipulação da forma e do conteúdo.
A forma é definida pela linguagem da TV. Um complexo jogo de luz, explorando o espaço, os movimentos de câmera fazendo a vez dos olhar do telespectador que não tem a oportunidade de estar “ali”, mas pode acompanhar “agora” o desenrolar dos acontecimentos. Os efeitos sonoros, a voz dando vida à narrativa que vai tocar as sensações humanas. Vale observar que são estes mesmos elementos que fazem a linguagem do cinema - luz, câmera, ação.
Vamos ao conteúdo. A informação, por si só, não tem tanto poder de persuasão quanto a forma. Assim é possível dizer que a forma (a linguagem) potencializa a manipulação da realidade. Mas tudo isso acontece muito rápido, de forma que não sobra tempo para a reflexão, pelo menos não no breve momento em que as imagens televisivas chegam ao alcance dos olhos do telespectador – aquele que assiste de longe a um espetáculo (tele- longe, espectador – aquele que assiste a um espetáculo). Do outro lado da tela, o sujeito pode até assistir de longe, mas tem a impressão de estar próximo.
Não há melhor exemplo para ilustrar essa impressão do que um jogo de futebol. Da arquibancada ninguém jamais poderia ver – e ainda mais, rever – o momento do gol, de um ângulo em que é possível assistir todo o percurso da bola saindo dos pés do jogador até entrar na área, balançar a rede e o coração das pessoas. Tampouco poderia acompanhar a emoção expressa numa lágrima que escorre no rosto de um torcedor ou explode no grito ecoante da platéia.
O telespectador é bombardeado a todo momento, pela chuva de elétrons, imagens e sons já incorporados ao seu cotidiano. O artefato funciona então como uma extensão do homem. Assim como a câmera é a extensão do olho humano. Registra, comprova, testemunha e eterniza momentos.
Momentos como os descritos anteriormente só são possíveis graças à televisão. O professor Arlindo Machado, deixa claro uma coisa: convivendo com esta TV brasileira, que como tantas outras, insiste em copiar os modelos banalizados das TVS estrangeiras, existe gente querendo fazer uma TV que utilize seus recursos para potencializar a reflexão sobre o mundo e suas representações.
Agora, ao banco dos réus. Lá não está apenas um aparelho, mas um complexo ideológico, um olhar mecânico, um espelho distorcido da realidade, editor da verdade. O julgamento já começou, mas ainda cabe uma ressalva. A pergunta central do julgamento não deveria ser se a TV é “boa ou má”, mas o quê se está fazendo dela. A própria energia nuclear é inofensiva. Pode tanto salvar vidas como destruir. O problema está em quem faz uso dela, e principalmente “como” o faz. Da mesma forma, é o conteúdo televisivo. Isso sim deveria estar sendo julgado, tanto por quem faz quanto por quem assiste, principalmente por quem a critica.
Lidar com a manipulação da realidade é ter em mãos uma poderosa ferramenta que tanto pode informar, edificar vidas e consciências, quanto pode aniquilar o que o ser humano tem de mais precioso: sua inteligência. Pode tanto engrandecer, quanto “coisificar” o homem, tornando-o uma máquina de trabalhar, gerar lucro, fazer filho e consumir. Enfim, pode valorizar ou aniquilar a capacidade humana de leitura crítica do mundo. Sua alma. Nenhuma coisa existe sem o homem para criá-la. E o homem não existe sem sua alma para torná-lo humano. A alma sem o homem ainda é alma, é energia. Mas o homem sem sua alma é apenas uma coisa.
Viviane Pascoal Dantas, jornalista
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
UM CARA CHAMADO “BONZINHO”
A BONDADE EXIGE
A ATENÇÃO EXTREMA
EM SE DISTRAIR
NOS OUTROS
O Bonzinho era um cara legal. Amigo fiel, sempre preocupado com as pessoas ao seu redor. Desdobrava-se em atenção e distribuía sorrisos gratuitamente. Sempre solícito e pronto para ajudar no que fosse preciso. Gostava de estar sempre rodeado de pessoas. Poderia ser que alguém precisasse de algo, e caso fosse, ele estaria ali.
Agia como se estivesse sempre esperando o glorioso momento em que fosse solicitado para alguma coisa. Mesmo que estivesse com toneladas de coisas para fazer, as necessidades do outro sempre vinham em primeiro lugar. Afinal, ele era daqueles que só diziam “sim”. Era um cara legal. Legal para os outros!
Também pudera! Ele cresceu acreditando na salvação pelo sacrifício, achando lindo morrer como mártir, achando nobre abdicar da felicidade por outra pessoa. Como então estranhar que ele sentisse a necessidade extrema de se doar? Essa era sua forma de ser amado. E ai de quem não o amasse!
Por trás de sua solicitude quase irritante, uma voz, no silêncio de seu íntimo dizia: “Sim, eu te ajudo no trabalho. Até por que você não saberia mesmo fazê-lo. Não fosse por mim, estaria perdido! Mas nem precisa me agradecer por isso. Em troca, você só tem que me amar.”
E se alguém ousa-se lhe dizer um “não”, recusando a ajuda, era quase possível ouvir a súplica que se espelhava em seus olhos, como se dissesse: “Por favor, precise de mim ou serei obrigado a viver a minha própria vida! Deus me livre, prefiro a sua!”
A ATENÇÃO EXTREMA
EM SE DISTRAIR
NOS OUTROS
O Bonzinho era um cara legal. Amigo fiel, sempre preocupado com as pessoas ao seu redor. Desdobrava-se em atenção e distribuía sorrisos gratuitamente. Sempre solícito e pronto para ajudar no que fosse preciso. Gostava de estar sempre rodeado de pessoas. Poderia ser que alguém precisasse de algo, e caso fosse, ele estaria ali.
Agia como se estivesse sempre esperando o glorioso momento em que fosse solicitado para alguma coisa. Mesmo que estivesse com toneladas de coisas para fazer, as necessidades do outro sempre vinham em primeiro lugar. Afinal, ele era daqueles que só diziam “sim”. Era um cara legal. Legal para os outros!
Também pudera! Ele cresceu acreditando na salvação pelo sacrifício, achando lindo morrer como mártir, achando nobre abdicar da felicidade por outra pessoa. Como então estranhar que ele sentisse a necessidade extrema de se doar? Essa era sua forma de ser amado. E ai de quem não o amasse!
Por trás de sua solicitude quase irritante, uma voz, no silêncio de seu íntimo dizia: “Sim, eu te ajudo no trabalho. Até por que você não saberia mesmo fazê-lo. Não fosse por mim, estaria perdido! Mas nem precisa me agradecer por isso. Em troca, você só tem que me amar.”
E se alguém ousa-se lhe dizer um “não”, recusando a ajuda, era quase possível ouvir a súplica que se espelhava em seus olhos, como se dissesse: “Por favor, precise de mim ou serei obrigado a viver a minha própria vida! Deus me livre, prefiro a sua!”
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Dançando sobre rodas
Oi, gente, depois de um longo e tenebroso tempo de ausência, volto ao blog para postar o link da reportagem em estilo literário, Dança sobre Rodas, sobre um grupo companhia de dança Bombelêla, que integra dançarinos deficientes e naõ-deficientes ao som do hip-hop.
Comentem!
http://www.textovivo.com.br/detalhe.php?conteudo=fl20090114082609&category=reportagem
Comentem!
http://www.textovivo.com.br/detalhe.php?conteudo=fl20090114082609&category=reportagem
terça-feira, 21 de outubro de 2008
A Herança
A vida é uma seqüência de escolhas, que fazemos a cada segundo. Podemos escolher entre acordar ou continuar dormindo. Parar ou andar. Transformar pensamentos em ações, ou deixá-los apenas na mente. Podemos escolher entre ser um espectador da própria vida, ou um ator, agente transformador da sua própria realidade.
É preciso voltar a atenção para as escolhas do dia a dia, para a intervenção consciente e ativa do indivíduo em relação o meio em que vive, sua família, sua comunidade.
Diante de uma escolha que tenha gerado resultados negativos, podemos optar por mudar ou esperar que a atitude correta venha do outro. É como observar, de braços cruzados, o planeta ruir a cada dia, a mancha cinza no céu outrora azul, as torres e prédios desafiando o curso dos ventos. Muitas vezes escolhemos não fazer nada, simplesmente porque é mais fácil e cômodo pensar que a solução não esteja em nossas mãos.
Rotulamos a preservação ambiental como uma questão global, que exige soluções múltiplas, grandiosas, que certamente não estão ao nosso alcance. Mas toda grande ação tem um ponto de partida, nasce da vontade de quem percebeu que algo precisava ser mudado, e ousou dar o primeiro passo.
A preocupação com o planeta deve ser a mesma de quem prepara a cama para o sono de seu filho. Com as nossas escolhas, estamos preparando o mundo onde viverão nossos filhos. E se eles perguntarem o que fizemos para contribuir com a preservação da mãe-terra? Não sabíamos da quantidade de poluentes que lançávamos no ar ao ligar ao carro até mesmo para ir à padaria? Não sabíamos da escassez da água, mesmo quando nos dávamos ao luxo de um banho de meia hora? Não sabíamos das conseqüências do excesso de lixo produzido, e descartado de forma a gerar ainda mais lixo?
A solução não está apenas nas pequenas atitudes, mas em uma consciência global que promova uma Justiça Ambiental. Não se trata apenas de adquirir novos hábitos que preservem o meio-ambiente, mas que nos libertem da dependência dos aparatos tecnológicos, como computador, celular, automóveis, processadores. Esses são criadouros de poluentes devolvidos ao meio ambiente. Não há dúvidas que apertar um botão e conseguir o que antes levaria tempo e esforço, facilita a vida de muita gente, proporcionando conforto e rapidez. Esses aparatos elétricos e eletrônicos, outros até virtuais, incorporaram-se de tal forma ao cotidiano do homem moderno que redefiniram alguns hábitos da sociedade.
O preparo de alimentos ganhou novo sentido com os industrializados e mesmo o cozimento no fogão parece ultrapassado diante das microondas que alteram a composição orgânica do alimento, mas vencem pela praticidade. É só apertar o botão. Amassar alho, picar cebola, para quê verter lágrimas? Uma colherinha de tempero pronto e está resolvida a questão. Mesmo que na colherinha venha também uma dose de conservante, que nem se sabe o que contém.
Na hora do almoço, a falta de tempo e de cuidados com uma alimentação saudável nos faz colocar sobre a mesa, uma grande sopa de massa e gordura, industrializados e processados. No lanche das crianças, uma generosa quantidade sal, gordura, açúcares, conservantes e colesterol, disfarçados em forma de inocentes floquinhos de milho, balinhas, chocolates, batatinhas fritas, lanchinhos e refrigerantes. Resta saber se é essa a herança ambiental e de saúde que queremos perpetuar para as gerações futuras.
É preciso voltar a atenção para as escolhas do dia a dia, para a intervenção consciente e ativa do indivíduo em relação o meio em que vive, sua família, sua comunidade.
Diante de uma escolha que tenha gerado resultados negativos, podemos optar por mudar ou esperar que a atitude correta venha do outro. É como observar, de braços cruzados, o planeta ruir a cada dia, a mancha cinza no céu outrora azul, as torres e prédios desafiando o curso dos ventos. Muitas vezes escolhemos não fazer nada, simplesmente porque é mais fácil e cômodo pensar que a solução não esteja em nossas mãos.
Rotulamos a preservação ambiental como uma questão global, que exige soluções múltiplas, grandiosas, que certamente não estão ao nosso alcance. Mas toda grande ação tem um ponto de partida, nasce da vontade de quem percebeu que algo precisava ser mudado, e ousou dar o primeiro passo.
A preocupação com o planeta deve ser a mesma de quem prepara a cama para o sono de seu filho. Com as nossas escolhas, estamos preparando o mundo onde viverão nossos filhos. E se eles perguntarem o que fizemos para contribuir com a preservação da mãe-terra? Não sabíamos da quantidade de poluentes que lançávamos no ar ao ligar ao carro até mesmo para ir à padaria? Não sabíamos da escassez da água, mesmo quando nos dávamos ao luxo de um banho de meia hora? Não sabíamos das conseqüências do excesso de lixo produzido, e descartado de forma a gerar ainda mais lixo?
A solução não está apenas nas pequenas atitudes, mas em uma consciência global que promova uma Justiça Ambiental. Não se trata apenas de adquirir novos hábitos que preservem o meio-ambiente, mas que nos libertem da dependência dos aparatos tecnológicos, como computador, celular, automóveis, processadores. Esses são criadouros de poluentes devolvidos ao meio ambiente. Não há dúvidas que apertar um botão e conseguir o que antes levaria tempo e esforço, facilita a vida de muita gente, proporcionando conforto e rapidez. Esses aparatos elétricos e eletrônicos, outros até virtuais, incorporaram-se de tal forma ao cotidiano do homem moderno que redefiniram alguns hábitos da sociedade.
O preparo de alimentos ganhou novo sentido com os industrializados e mesmo o cozimento no fogão parece ultrapassado diante das microondas que alteram a composição orgânica do alimento, mas vencem pela praticidade. É só apertar o botão. Amassar alho, picar cebola, para quê verter lágrimas? Uma colherinha de tempero pronto e está resolvida a questão. Mesmo que na colherinha venha também uma dose de conservante, que nem se sabe o que contém.
Na hora do almoço, a falta de tempo e de cuidados com uma alimentação saudável nos faz colocar sobre a mesa, uma grande sopa de massa e gordura, industrializados e processados. No lanche das crianças, uma generosa quantidade sal, gordura, açúcares, conservantes e colesterol, disfarçados em forma de inocentes floquinhos de milho, balinhas, chocolates, batatinhas fritas, lanchinhos e refrigerantes. Resta saber se é essa a herança ambiental e de saúde que queremos perpetuar para as gerações futuras.
domingo, 5 de outubro de 2008
Alguém para dividir os sonhos
Infância tem som e tem cheiro de fantasia. De risos. De sonhos. Mas também de angústias e medos. Um mundo desconhecido me foi apresentado e foi descortinando-se a cada segundo, estivesse eu pronta ou não. Mal me despedia do aconchego dos braços da minha mãe, do olhar doce e da segurança que eu sentia ao lado do meu pai, nem da companhia do meu irmão, o único com quem eu dividia as descobertas do dia a dia.
O mundo de carinho, conforto e proteção parecia existir em um universo parelelo, principalmente quando a cortina se abriu um pouco mais e do outro lado do palco, uma inscrição em azul: ESCOLA. Eu preferia ficar na platéia, mas não tinha escolha. Aliás, Escolha e Escola, só rimam mesmo na poesia! Na prática, elas parecem cada vez mais distantes uma da outra.
O sinal estridente indicava que era hora de entrar. Meu Deus, o que era aquilo? Que gente estranha era aquela, todas iguais, vestindo igual, gesticulando igual?
- Agora, crianças, quero que façam um desenho bem bonito!
E lá ia a tia com cara de boazinha e voz de taquara rachada desenhar na lousa algo que ela julgava apropriado para a fase da vida daquelas criançinhas iguais.
Eu nem olhava a lousa! Não era daquele jeito que eu queria desenhar. Pra quê fazer aquela meia dúzia de traços mal feitos que não me serviriam de nada? A casa que eu lembrava, aquela redoma de afeto que eu trazia em mim, não era nada parecido com aquilo! Então, não fazia.
Imagino a coitada da “tia” tentando encontrar uma maneira de me fazer pegar o maldito lápis e desenhar, exatamente como os outros. Copiar, claro. Criar era contra os seus princípios. Em meu protesto silencioso, eu deixava minha mente vagar. E como ela voava, livre, enquanto meu olhar perdido – porém brilhante – parecia estar em outro mundo, onde milhões de coisas aconteciam. Mas isso intrigava a professora. Ela devia achar que eu tinha alguma espécie de autismo ou fobia social. Que nada! Eu só não queria fazer parte daquela brincadeira sem graça de ser igual, e fazer igual a todo mundo.
O intervalo, recreio, em criancês, era a meia hora mais esperada da turma. Brincadeira de rodas, pega-pega, cantigas, devia ser legal participar de tudo aquilo. Mas eu não fazia o menor esforço para estar na roda, porque me sentia fora dela.
O tempo foi passando e eu descobri outra faceta do recreio: era a hora do lanche! Hora de sorver as guloseimas que o meu pai comprava a caminho da escola. Guloseimas, aliás, compartilhadas sem cerimônia pelos coleguinhas. Não porque eles tomavam, mas porque eu oferecia. Afinal eles pareciam gostar do que eu trazia na lancheira, por mais que eu não me esforçasse para entrar na brincadeira deles.
Mas quando as tias perceberam que o lanche acabava antes de chegar à minha boca, tomaram a sábia decisão de me isolar do grupo. Convenhamos, é uma atitude muito mais fácil do que resolver o problema. Lá estava eu, isolada na primeira tentativa de estabelecer contato. Ora sozinha, ora com alguma professora.
Até que era divertido, mais legal conversar com gente grande do que com as criançinhas que só pensavam nas dancinhas da Xuxa, e prendiam o cabelo para ficarem parecidas com a rainha! Enquanto eu comia, milhões de coisas aconteciam, no mundo secreto da minha imaginação. Eram histórias e personagens que só esperavam uma oportunidade para ganhar vida.
Essa oportunidade não demorou a surgir, por trás da cortina. Era grande, mágico... então era possível juntar todas aquelas letrinhas chatas de se desenhar e formar palavras? Sons? Sentimentos? Foi simplesmente fascinante encontrar uma forma de fazer aquelas histórias e personagens jorrarem para o papel. O caderno passou a ser meu melhor amigo, companheiro de todas as horas. Nas linhas tortas, encontrei finalmente, alguém com quem conversar. Mais do que isso: alguém para dividir os sonhos!
O mundo de carinho, conforto e proteção parecia existir em um universo parelelo, principalmente quando a cortina se abriu um pouco mais e do outro lado do palco, uma inscrição em azul: ESCOLA. Eu preferia ficar na platéia, mas não tinha escolha. Aliás, Escolha e Escola, só rimam mesmo na poesia! Na prática, elas parecem cada vez mais distantes uma da outra.
O sinal estridente indicava que era hora de entrar. Meu Deus, o que era aquilo? Que gente estranha era aquela, todas iguais, vestindo igual, gesticulando igual?
- Agora, crianças, quero que façam um desenho bem bonito!
E lá ia a tia com cara de boazinha e voz de taquara rachada desenhar na lousa algo que ela julgava apropriado para a fase da vida daquelas criançinhas iguais.
Eu nem olhava a lousa! Não era daquele jeito que eu queria desenhar. Pra quê fazer aquela meia dúzia de traços mal feitos que não me serviriam de nada? A casa que eu lembrava, aquela redoma de afeto que eu trazia em mim, não era nada parecido com aquilo! Então, não fazia.
Imagino a coitada da “tia” tentando encontrar uma maneira de me fazer pegar o maldito lápis e desenhar, exatamente como os outros. Copiar, claro. Criar era contra os seus princípios. Em meu protesto silencioso, eu deixava minha mente vagar. E como ela voava, livre, enquanto meu olhar perdido – porém brilhante – parecia estar em outro mundo, onde milhões de coisas aconteciam. Mas isso intrigava a professora. Ela devia achar que eu tinha alguma espécie de autismo ou fobia social. Que nada! Eu só não queria fazer parte daquela brincadeira sem graça de ser igual, e fazer igual a todo mundo.
O intervalo, recreio, em criancês, era a meia hora mais esperada da turma. Brincadeira de rodas, pega-pega, cantigas, devia ser legal participar de tudo aquilo. Mas eu não fazia o menor esforço para estar na roda, porque me sentia fora dela.
O tempo foi passando e eu descobri outra faceta do recreio: era a hora do lanche! Hora de sorver as guloseimas que o meu pai comprava a caminho da escola. Guloseimas, aliás, compartilhadas sem cerimônia pelos coleguinhas. Não porque eles tomavam, mas porque eu oferecia. Afinal eles pareciam gostar do que eu trazia na lancheira, por mais que eu não me esforçasse para entrar na brincadeira deles.
Mas quando as tias perceberam que o lanche acabava antes de chegar à minha boca, tomaram a sábia decisão de me isolar do grupo. Convenhamos, é uma atitude muito mais fácil do que resolver o problema. Lá estava eu, isolada na primeira tentativa de estabelecer contato. Ora sozinha, ora com alguma professora.
Até que era divertido, mais legal conversar com gente grande do que com as criançinhas que só pensavam nas dancinhas da Xuxa, e prendiam o cabelo para ficarem parecidas com a rainha! Enquanto eu comia, milhões de coisas aconteciam, no mundo secreto da minha imaginação. Eram histórias e personagens que só esperavam uma oportunidade para ganhar vida.
Essa oportunidade não demorou a surgir, por trás da cortina. Era grande, mágico... então era possível juntar todas aquelas letrinhas chatas de se desenhar e formar palavras? Sons? Sentimentos? Foi simplesmente fascinante encontrar uma forma de fazer aquelas histórias e personagens jorrarem para o papel. O caderno passou a ser meu melhor amigo, companheiro de todas as horas. Nas linhas tortas, encontrei finalmente, alguém com quem conversar. Mais do que isso: alguém para dividir os sonhos!
sábado, 27 de setembro de 2008
Gosto de Infância
Infância tem gosto de chocolate
Chiclete, picolé, pirulito que bate-bate
De doces, balas e bolas de sorvete bem gelado
Infância tem gosto de moleque levado
Que ri do vizinho, apronta na escola
Que brinca na rua até de noitinha
Pique-esconde, bola de meia, amarelinha
Ciranda, dança de roda, circo e palhaço
Infância tem gosto de abraço
De dormir no colo da mãe, fazer um carinho
Se sentir enorme nos braços do pai
E brigar com o irmãozinho
Pra depois dizer “Ah, vamos ficar de bem, vai!!”
Infância tem gosto de conto de fadas
No mundo de faz de contas, ser o que quiser
Príncipe, princesa, rei e rainha.
Cowboy, cacique, herói, vilão e guerreiro,
Infância tem som e tem cheiro
De pipoca na panela, e brigadeiro no fogão.
Infância tem gosto de quero mais.
Mais alegria, mais vida, mais cor
Infância tem gosto de primeiro amor.
De sorriso, encantamento e paz.
Infância tem gosto de sentimento
Provar a delícia de cada momento
Infância tem gosto mesmo é de ser criança
E ainda que o tempo varra essa fase colorida
Bom mesmo é jamais deixar de sentir no rosto
O sopro da vida, o gosto da infância.
Chiclete, picolé, pirulito que bate-bate
De doces, balas e bolas de sorvete bem gelado
Infância tem gosto de moleque levado
Que ri do vizinho, apronta na escola
Que brinca na rua até de noitinha
Pique-esconde, bola de meia, amarelinha
Ciranda, dança de roda, circo e palhaço
Infância tem gosto de abraço
De dormir no colo da mãe, fazer um carinho
Se sentir enorme nos braços do pai
E brigar com o irmãozinho
Pra depois dizer “Ah, vamos ficar de bem, vai!!”
Infância tem gosto de conto de fadas
No mundo de faz de contas, ser o que quiser
Príncipe, princesa, rei e rainha.
Cowboy, cacique, herói, vilão e guerreiro,
Infância tem som e tem cheiro
De pipoca na panela, e brigadeiro no fogão.
Infância tem gosto de quero mais.
Mais alegria, mais vida, mais cor
Infância tem gosto de primeiro amor.
De sorriso, encantamento e paz.
Infância tem gosto de sentimento
Provar a delícia de cada momento
Infância tem gosto mesmo é de ser criança
E ainda que o tempo varra essa fase colorida
Bom mesmo é jamais deixar de sentir no rosto
O sopro da vida, o gosto da infância.
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