domingo, 17 de agosto de 2008

Agenda Literária

Saudações literárias!!


Atenção senhores leitores, aqui é Viviane Pascoal, comandante da nave VIDAS EM RETALHOS, juntamente com o piloto Arnaldo Mota, dando as boas vindas àqueles que desejam tecer os fios da invisibilidade social. Informamos que nossa nave está equipada com duas Saídas de Emergência caso queiram fugir da superficialidade da informação midiática: JORNALISMO E LITERATURA.
Nossa viagem começa na infância de Vera Silva, brasileira, nordestina, potiguar, mulher, mãe. O tempo de vôo do até MATERNIDADE é de aproximadamente 19 anos, quando daremos início ao embarque dos passageiros: CAIO, GABRIELA, LUCAS, RAFAEL, JÚLIA E MARIANA, provenientes da cidade de FILHOS, Estado de PAIS DIFERENTES. O vôo de FILHOS, da ESCOLA até RUA é direto e sem escalas, com previsões de turbulências pelo caminho, porém a nave entra em cruzeiro com a entrada do passageiro ESTRANGEIRO, responsável pelo abastecimento da ESPERANÇA de UM FUTURO MAIS DIGNO.
Nosso serviço de bordo conta com uma grande variedade de VALORES HUMANOS, recheados com muito LIRISMO E REALISMO. Nossos pratos são preparados por CHEFs JORNALISTAS, orientados por AUTORIDADES EM SOCIOLOGIA, PSICOLOGIA, DIREITO E JORNALISMO. Para beber, doses equilibradas de HUMOR, POESIA e REALIDADE, nas versões INTEGRAL E LIGHT.
Lembrando que nosso vôo é proveniente da UNIVERSIDADE POTIGUAR, e tem como destino, MENTES E CORAÇÕES. Desejamos a todos uma boa viagem.

ESCALAS:

21 de Agosto: Sessão de Autógrafos na 20a Bienal Internacional do Livro
Às 19 horas, no Parque Anhembi, Stand All Print Editora, rua I-7

22 de Agosto: Coquetel de lançamento do livro em São Paulo
Às 19 horas no Colégio Pascoal Dantas - Av. Pires do Rio,2801 - São Miguel

19 de Setembro: Coquetel de lançamento do livro em Natal
Às 18 horas Paladar Tropical - Av. Jaguarari, 2570 - Candelária

15 de Outubro: Tarde de autógrafos em São Paulo
Às 17 horas no Casarão de Belvedere - Rua Pedroso, 267, Bela Vista - Prox. metrô São Joaquim

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Entre tantos outros

“... Parecia ser mais um daqueles momentos que passa ligeiro sem a gente perceber. Parecia ser mais um rosto comum, que entre tantos outros, a gente não vê. Foi quase assim que ele me surgiu. Não fosse pelo seu olhar oblíquo, não fosse pelo seu sorriso amigo.

Trazia ao lado uma criança, uma menina risonha, simpática. Parecia apenas mais um rostinho perdido; uma feição comum, que entre tantas outras, a gente não vê. Não fosse pelo toque suave de sua expressão. Não fosse pela inocência, que fluía de seu coração. Ela me sorriu e ele sentou-se ao meu lado. Assim, começamos a conversar. Parecia um papo superficial, comum, trivial, como tantos outros que procuramos ter. Mas algo em seu olhar e sua voz modificou-se de forma tal que me fez perceber seu brilho interior. Em suas palavras revelavam-se um misto de sabedoria e simplicidade. Era um ser iluminado, eu sentia. Havia certeza e doçura em sua voz, um sorriso terno em seu rosto, humildade em seu olhar, e um canto de verdade em seu silêncio.

Falamos da doce ilusão do tempo, do passado inexistente, do futuro incerto que quando chegar, será presente. Falamos do homem afoga o coração em pensamentos, passa a vida inteira buscando razões, e é estranho aos próprios sentimentos. Mas a nossa vida passa, entre tantas outras e a gente não vê.
Foi de repente que ele se levantou, tomou minha mão entre as suas e disse que admirava minha atitude. Pareciam ser palavras soltas ao ar ,um mero comentário, como tantos outros. Mas foi o mais belo e sincero elogio dentre tantos outros que já recebi. Pareciam ser mãos comuns, como tantas outras, mas aquelas mãos me tocavam, e eu não as sentia. Como se ali não houvesse matéria, apenas energia. E não obstante, depois que ele saiu, percebi que as pessoas me olhavam assustadas. Também pudera: aquele homem com quem eu conversava, apenas aos meus olhos se apresentava.

Foi de repente, rápido, misterioso, um momento milagroso. Não foi mais que um instante, e eu percebi, que aquele homem comum, que entre tantos outros, eu conheci, em apenas um segundo, conseguiu mudar o mundo em mim.”
... Pára, olha o tempo! Lá se vão tantos momentos, tantos homens comuns, tantas crianças, tantos sorrisos, tanta coisa para aprender! E nós, como tantos outros, pedimos uma palavra do mestre, e esperamos percebe-la na voz rouca de um velhinho de barba branca, sentado numa cadeira bamba ou no banco de uma praça, vestindo um véu de luz e um gorro troncho que lhe cobre o rosto. E que de preferência, diga: Meu filho, sou seu mestre. Vim aqui para lhe dizer o que fazer! Parece ser a imagem perfeita para um bom guia. Não fosse o poder de edificar uma vida feliz que como um presente divino, nos foi destinado. Um presente, um instrumento da vida, que a todo momento, nos aparece. Na forma de um sorriso ou de um homem comum. Tão comum que a gente até se esquece que talvez ele seja o mestre, trazendo a mensagem que precisamos ouvir. Mas quem nos fará despertar da ilusão que nossos olhos querem ver? Talvez em um simples gesto de um homem simplesmente gente: um sorriso que não se vê, entre tantos rostos...

domingo, 3 de agosto de 2008

Apenas um olhar

Oi, gente, ai vai a primeira história de uma jornalista com coração de poeta! Comentem!

Apenas um olhar


Era uma típica noite de terça-feira paulistana. O frio abraçando os gatos da noite que exploravam aquele bairro da Santa Cecília. Nome interessante para um lugar onde o sagrado e o profano parecem conviver bem: as beatas da igreja, as prostitutas nas esquinas, os estudantes de jaleco branco saindo do Mackenzie ou da Santa Casa, outros mais descolados a caminho do metrô. Nessa pluralidade de gente e de cor, um grupo de jornalistas apaixonados por literatura foi desafiado a praticar o exercício do olhar. Isso significava varrer a redondeza com olhos atentos para mais tarde, de volta à sala de aula, descrever o que encontrássemos de mais interessante.
Foi assim, que na companhia de dois colegas, percorri com os pés e com os olhos, a calçada da Rua General Jardim. Queria chegar a alguma esquina onde pudesse encontrar um típico quarentão solitário. Desses que param diante do balcão sujo de um bar, com os cabelos em desalinho, e pedem uma cerveja. Esperava encontrar um sujeito descontente com a vida, que fizesse da loira gelada, sua companheira, testemunha de um monólogo interior nem sempre inteligível.
Pus os pés na rua com o olhar domesticado, em busca de uma figura humana pré-determinada, talvez até pré-julgada. Realmente não foi difícil encontrar tal figura. Estava ali, sentado no bar, exatamente como eu imaginava. Mas meu olhar parou antes mesmo de chegar à esquina. Estava diante da Escola de Sociologia e Política, número 522 da General jardim.
Não foi a edificação arquitetonicamente interessante que me chamou a atenção, mas o homem parado ali, na frente dela. Era forte, negro, do tipo que convive bem com uns quilinhos a mais. Tinha o rosto arredondado, os olhos amarelados, porem vivos. A barriga saltando para fora da calça, a camisa um pouco aberta, a carteira de cigarros caindo do bolso. Uma latinha de cerveja aos seus pés. Sentado em um caixote de madeira, olhava as pessoas na rua. Ou o mundo?
Atrás de si, a grade de ferro que se estendia ao redor da faculdade. Era como se o portão separasse dois mundos: o daqueles que pensam a vida e o dos que a vivem. Por um momento, varri com os olhos o lado de dentro do portão. Havia grupinhos de jovens falantes, filosofantes, talvez. Discutiam sociologia, mas será que já ousaram, alguma vez, romper a barreira silenciosa dos portões da faculdade e alcançar o mundo do lado de fora? Teriam se interessado em saber o que pensa e sente um homem que na sociedade, agoniza no silêncio e na invisibilidade?
Alheio às profusões filosóficas dos jovens atrás de si, o homem no caixote de madeira sabia ser invisível, e parecia se divertir com isso. Olhou para dentro da escola e sorriu como se dissesse “O que vocês acham que sabem da vida?” E no momento em que se voltou novamente para a rua, seus olhos se cruzaram com os de uma jornalista que por ali passava, procurando uma cena interessante para transformar em palavras. É claro que ele não sabia disso. Não sabia quem eu era. E nem importava saber.
Quando meu olhar, não mais domesticado, ousou enxergá-lo, seus lábios se abriram em um sorriso, que no silêncio, disse: “bem vinda ao meu mundo”. E retribuindo o gesto, agradeci mentalmente por ele ter me permitido romper as barreiras da invisibilidade. E nem precisamos trocar palavras para que eu cruzasse os portões da cegueira social e entrasse em seu mundo. Bastou apenas um olhar. Não fosse por isso, eu certamente estaria descrevendo o quarentão solitário em companhia de uma loira gelada, no balcão sujo de um bar.