sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Entre tantos outros

“... Parecia ser mais um daqueles momentos que passa ligeiro sem a gente perceber. Parecia ser mais um rosto comum, que entre tantos outros, a gente não vê. Foi quase assim que ele me surgiu. Não fosse pelo seu olhar oblíquo, não fosse pelo seu sorriso amigo.

Trazia ao lado uma criança, uma menina risonha, simpática. Parecia apenas mais um rostinho perdido; uma feição comum, que entre tantas outras, a gente não vê. Não fosse pelo toque suave de sua expressão. Não fosse pela inocência, que fluía de seu coração. Ela me sorriu e ele sentou-se ao meu lado. Assim, começamos a conversar. Parecia um papo superficial, comum, trivial, como tantos outros que procuramos ter. Mas algo em seu olhar e sua voz modificou-se de forma tal que me fez perceber seu brilho interior. Em suas palavras revelavam-se um misto de sabedoria e simplicidade. Era um ser iluminado, eu sentia. Havia certeza e doçura em sua voz, um sorriso terno em seu rosto, humildade em seu olhar, e um canto de verdade em seu silêncio.

Falamos da doce ilusão do tempo, do passado inexistente, do futuro incerto que quando chegar, será presente. Falamos do homem afoga o coração em pensamentos, passa a vida inteira buscando razões, e é estranho aos próprios sentimentos. Mas a nossa vida passa, entre tantas outras e a gente não vê.
Foi de repente que ele se levantou, tomou minha mão entre as suas e disse que admirava minha atitude. Pareciam ser palavras soltas ao ar ,um mero comentário, como tantos outros. Mas foi o mais belo e sincero elogio dentre tantos outros que já recebi. Pareciam ser mãos comuns, como tantas outras, mas aquelas mãos me tocavam, e eu não as sentia. Como se ali não houvesse matéria, apenas energia. E não obstante, depois que ele saiu, percebi que as pessoas me olhavam assustadas. Também pudera: aquele homem com quem eu conversava, apenas aos meus olhos se apresentava.

Foi de repente, rápido, misterioso, um momento milagroso. Não foi mais que um instante, e eu percebi, que aquele homem comum, que entre tantos outros, eu conheci, em apenas um segundo, conseguiu mudar o mundo em mim.”
... Pára, olha o tempo! Lá se vão tantos momentos, tantos homens comuns, tantas crianças, tantos sorrisos, tanta coisa para aprender! E nós, como tantos outros, pedimos uma palavra do mestre, e esperamos percebe-la na voz rouca de um velhinho de barba branca, sentado numa cadeira bamba ou no banco de uma praça, vestindo um véu de luz e um gorro troncho que lhe cobre o rosto. E que de preferência, diga: Meu filho, sou seu mestre. Vim aqui para lhe dizer o que fazer! Parece ser a imagem perfeita para um bom guia. Não fosse o poder de edificar uma vida feliz que como um presente divino, nos foi destinado. Um presente, um instrumento da vida, que a todo momento, nos aparece. Na forma de um sorriso ou de um homem comum. Tão comum que a gente até se esquece que talvez ele seja o mestre, trazendo a mensagem que precisamos ouvir. Mas quem nos fará despertar da ilusão que nossos olhos querem ver? Talvez em um simples gesto de um homem simplesmente gente: um sorriso que não se vê, entre tantos rostos...

2 comentários:

Unknown disse...

uau, conteudo com qualidade! ja esta nos meus favoritos!

Beijoes

Cesar
Bristol / UK

ROBÉRIO disse...

Muito importante essa mensagem que você está querendo passar,Viviane. Tive a oportunidade de assistir à palestra do Arnaldo Mota aqui em Fortaleza e isso despertou em mim um olhar que talvez eu já timidamente possuía, mas não sabia que era tão importante. Parabéns e continuem levando essa proposta a todo o Brasil.